Estou lendo o livro Quem
Foi que Inventou o Brasil de Franklin Martins, obra excelente que conta
sobre as músicas de teor político na história do Brasil. Ou seja, a obra
mistura dois temas que adoro: Música e História. A luta para achar esse livro,
que embora novo estava difícil de ser encontrado nas grandes livrarias,
mereceria uma crônica à parte, que não vira à luz. Vale contar apenas que,
finalmente, o encontrei, comprei há pouco mais de um mês e estou lendo e já
chegando ao cabo de suas 589 páginas. Faltam pouco mais de cem. E é um momento
que odeio, o fim de um livro que é muito bom.
Parábola alguma explica melhor o que é a vida ou seus ciclos
que um livro. Ele começa, tem um momento excitante, inesquecível, mas hora
chega que ele acaba e deixa saudade. Se algo agradou, seja o autor, o tema, o
estilo, vai-se atrás de outro para saborear mais daquilo que foi bom e que você
queria que não acabasse, mas que, como tudo, tem um fim, o que é inevitável e
infalível.
Mesmo os livros ruins, como as fases ruins da vida, também
dão um prazer enorme quando acabam. Você pede a todos os deuses que nunca mais
lhe caia algo tão pérfido nas mãos. Assim são os livros nos ensinando de forma
didática esse breve tempo que chamamos de vida.
No caso desse livro específico, a consciência de que ele
está chegando ao fim é algo que me chateia, mas, página após página, ele me
ensina que é preciso lidar com essa chegada. A minha defesa, não tão eficiente,
mas paliativa, é deixa-lo de lado por um dia ou dois. Aí, mais anestesiado com
a sensação do fim (ou, pelo menos enganado por mim mesmo que ela não virá tão
cedo, pois eu a estendi), sigo a leitura. E as sensações voltam e as
providências são repetidas. Assim será até o dia em que a última página dará um
tapa na minha cara gritando como a composição do metrô na Barra Funda “Desembarque
obrigatório!”.
Estou nesse trem há, pelo menos, uns quatro anos com outro
livro, um dos que mais me deixou feliz ao vê-lo meu: o 200 Crônicas Escolhidas, de Rubem Braga. Sobre ele até escrevi a crônica Rubem Braga em 2012, quase três anos (foi em fins de novembro que a
escrevi). E passado esse tempo, o livro ainda paira em minha estante. Minhas “conversas”
com Rubem Braga seguem como aquelas: breves. Este livro entra na categoria que
coloco o sobre o qual falo aqui. Não dá vontade de acabar. Não quero acabar.
Mas ele acabará, é
isso que preciso aceitar. Ele, o do Braga, outros tantos, todos enfim. O que
sobrará disso? Saudades e reminiscências. Voltarei a folheá-los como quem
folheia álbuns de fotografia lembrando sempre de uma foto e preferindo aquela
às outras, que não são ruins, apenas não são melhores que a outra.
Talvez o fim do livro seja um momento para se preparar para
um próximo, como os ciclos da vida, em que você sai de um maduro e preparado
para outro ou (segundo os kardecistas a quem respeito muito) para uma próxima
vida com todos os ensinamentos desta. Retomo o que escrevi no começo dessa
crônica, o fim de um livro inspira a buscar mais daquilo que o atraiu naquele.
No caso desse Quem Foi..., o presente
livro é o primeiro volume de três. Há outros dois a serem vividos ainda e disso
tenho plena consciência e desejo de viver.
Mas como dói abandonar o presente estágio, por mais que seja
necessário. Como dói!
Francisco Libânio,
07/11/15, 11:14 AM
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