A crônica se dá por vários motivos, por vários casos os mais
diversos elementos que, ao passar pelo olhar ora poético ora vadio do Cronista,
incitam-no a colocar algumas letras formando palavras e destas arranjando e
rearranjando frases. Daí nasce a crônica, às vezes fecundada pelo mais
impensado motivo. Esse motivo, dependendo a qualidade do cronista, pode fazer
fantástica uma crônica e ser o mais vulgar, mais reles de tudo. Se cai na mão
de um bom cronista, um grão de arroz fica eternizado.
No entanto, o que me leva a essa crônica é algo alheio a mim
diretamente. Hoje soube que um casal de amigos meus se desfez. Namoravam e não
namoram mais. Casal convencional posto que hoje se aceita, pelo menos se tolera
ou se devia tolerar, chamar duas pessoas de mesmo sexo de casal. O espaço não
vale a digressão e a convicção do Cronista agora não precisa ser esmiuçada ou
rebatida. Cabe apenas que é um casal convencional, homem e mulher. E que esse
casal pôs um ponto final em sua história.
Evidentemente não darei os nomes dos personagens. Eles não
precisam ser identificados na crônica até porque a vida íntima deles é deles
apenas e casais se separam aos vários. Para as estatísticas que os jornais não
mostram é apenas mais um casal dentre tantos. Uma separação que aconteceu e sobre
a qual os pragmáticos diriam “bola pra frente” enquanto os românticos
exortariam a volta de dois corações apaixonados. Resta ao leitor, que leu esse introito
a pergunta: Se é mais um, por que a crônica? Porque são meus amigos,
responderei. O leitor curioso e sedento por temas cotidianos e histórias
pitorescas, num muxoxo, continuaria: E quantos amigos seus se separaram ou se
separarão? Todos merecerão uma crônica? Responderei que não.
Sim, por serem meus amigos, merecem, estes específicos, uma
crônica e a terão. O que acontece e os sublinha com a carinhosa dedicação de
uma crônica é o fato deles se constituírem no tipo de casal que, mesmo dentro
do que se convencionou chamar de “casal normal”, eram duas pessoas distintas no
jeito de ser e agir. Eram pessoas que poucos apostariam ser um casal. Duas
pessoas lindas e de ótimos corações. Agradabilíssimas, divertidíssimas e
maravilhosíssimas que a insistência nos superlativos é o mínimo para descrevê-los.
Pessoas tão boas de se estar junto que vê-los desafiava o conceito de “alma
gêmea”. Gêmeos, supõe-se, são um par de iguais, de cópias quase idênticas e os
dois eram de uma distinção tremenda. E se davam bem. Eram complemento e
suplemento um do outro. Uma relação que tinha seus maus momentos, como tudo e
todas e que infelizmente acabou.
O que levou a esse fim eu não sei e pouco me importa. Não me
meto em problema de casa que não é minha e não levanto hipóteses. Também não
sou o tipo de que incentiva uma volta. Se o fizerem, terão meu irrestrito apoio
como o terão em qualquer decisão que tomem. Por ora, fica a tristeza de ver um
laço tão bonito se desfazendo. E o leitor, se acompanhou até aqui essas breves
linhas, agradeço. Diferente do grão de arroz que algum grande cronista
eternize, esse namoro não foi eterno. Ou foi enquanto durou, como celebrou um
poeta. A intromissão deste Cronista na bela história dos dois é um réquiem a
algo bonito que aconteceu, mas amor tem mesmo dessas coisas.
Francisco Libânio,
11/11/15, 8:12 PM
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