quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Intromissão num fim triste

A crônica se dá por vários motivos, por vários casos os mais diversos elementos que, ao passar pelo olhar ora poético ora vadio do Cronista, incitam-no a colocar algumas letras formando palavras e destas arranjando e rearranjando frases. Daí nasce a crônica, às vezes fecundada pelo mais impensado motivo. Esse motivo, dependendo a qualidade do cronista, pode fazer fantástica uma crônica e ser o mais vulgar, mais reles de tudo. Se cai na mão de um bom cronista, um grão de arroz fica eternizado.
No entanto, o que me leva a essa crônica é algo alheio a mim diretamente. Hoje soube que um casal de amigos meus se desfez. Namoravam e não namoram mais. Casal convencional posto que hoje se aceita, pelo menos se tolera ou se devia tolerar, chamar duas pessoas de mesmo sexo de casal. O espaço não vale a digressão e a convicção do Cronista agora não precisa ser esmiuçada ou rebatida. Cabe apenas que é um casal convencional, homem e mulher. E que esse casal pôs um ponto final em sua história.
Evidentemente não darei os nomes dos personagens. Eles não precisam ser identificados na crônica até porque a vida íntima deles é deles apenas e casais se separam aos vários. Para as estatísticas que os jornais não mostram é apenas mais um casal dentre tantos. Uma separação que aconteceu e sobre a qual os pragmáticos diriam “bola pra frente” enquanto os românticos exortariam a volta de dois corações apaixonados. Resta ao leitor, que leu esse introito a pergunta: Se é mais um, por que a crônica? Porque são meus amigos, responderei. O leitor curioso e sedento por temas cotidianos e histórias pitorescas, num muxoxo, continuaria: E quantos amigos seus se separaram ou se separarão? Todos merecerão uma crônica? Responderei que não.
Sim, por serem meus amigos, merecem, estes específicos, uma crônica e a terão. O que acontece e os sublinha com a carinhosa dedicação de uma crônica é o fato deles se constituírem no tipo de casal que, mesmo dentro do que se convencionou chamar de “casal normal”, eram duas pessoas distintas no jeito de ser e agir. Eram pessoas que poucos apostariam ser um casal. Duas pessoas lindas e de ótimos corações. Agradabilíssimas, divertidíssimas e maravilhosíssimas que a insistência nos superlativos é o mínimo para descrevê-los. Pessoas tão boas de se estar junto que vê-los desafiava o conceito de “alma gêmea”. Gêmeos, supõe-se, são um par de iguais, de cópias quase idênticas e os dois eram de uma distinção tremenda. E se davam bem. Eram complemento e suplemento um do outro. Uma relação que tinha seus maus momentos, como tudo e todas e que infelizmente acabou.
O que levou a esse fim eu não sei e pouco me importa. Não me meto em problema de casa que não é minha e não levanto hipóteses. Também não sou o tipo de que incentiva uma volta. Se o fizerem, terão meu irrestrito apoio como o terão em qualquer decisão que tomem. Por ora, fica a tristeza de ver um laço tão bonito se desfazendo. E o leitor, se acompanhou até aqui essas breves linhas, agradeço. Diferente do grão de arroz que algum grande cronista eternize, esse namoro não foi eterno. Ou foi enquanto durou, como celebrou um poeta. A intromissão deste Cronista na bela história dos dois é um réquiem a algo bonito que aconteceu, mas amor tem mesmo dessas coisas.

Francisco Libânio,
11/11/15, 8:12 PM

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