domingo, 15 de novembro de 2015

Marianne, Mariana, mundo; mortes melhores, muitos menosprezados, malditos muçulmanos, mais, mesmo

(Foi meu recorde. Falta muito pra chegar em Mundo Moderno, que o Chico Anysio declamou maravilhosamente)

Dois dias após os atentados na França, as redes sociais viraram um campo de batalha entre duas tragédias. Paris ou Mariana? Houve quem colocasse a Nigéria de duas mil mortes em janeiro, o Quênia de atentado pouco falado na mídia brasileira e a Síria de todo dia no meio. Mortes a rodo, tragédias humanas que, se não têm o mesmo fim, tem o mesmo começo. Mas sejamos patriotas! Nossa tragédia vale mais. Mariana foi muito pior, seu colonizado!

Claro, claro! Hoje em dia, estamos tão corridos por tanta coisa que tão pouco vale que se é pra chorar por uma tragédia, que choremos por uma apenas. É preciso escolher uma pra chorar, uma pra lamentar. Lamentar por duas já é demais. Todas, então, é impensável. Ou uma ou outra. Tenho mais o que fazer no meu Facebook a ficar chorando tanta gente. Mas se a moda pede e a rede social facilita, vamos colocar aí a bandeira da França no avatar e estamos conversados.

Não sou uma pessoa fria e insensível. Sou francófilo por educação própria. Disse aqui que admiro os franceses, mas tenho raízes mineiras de onde vieram meus quatro avós. Acho que é o bastante pra doer meu coração peludo ver gente inocente morrendo na mão de uns malucos armados quanto uma cidade, um rio e parte da costa brasileira, no Espírito Santo, contaminada.

Tem isso também. Já fui pro Espírito Santo, de belas praias. Imaginá-las destruídas me dói mais ainda. E tem seres humanos como eu sendo mortos por vários e estúpidos motivos do outro lado do mundo. Meu coração pétreo está em pó.  Os de muitos não está, pois não sabem onde fica a França, onde fica Mariana e, imagina!, onde ficam os outros tantos países. Mas já que deu na TV, vamos lamentar.

Enquanto isso, pessoas que, em tese, pregam a palavra de deus cristão atribuem culpa a um contingente de dois bilhões de almas pela loucura de uns vinte em Paris e uns – sejamos otimistas – dois mil mundo afora. Afinal, muçulmano é terrorista, todos. Seus seguidores, ovelhas tangidas, balem o discurso. E aí ele aproveita a onda coloca a culpa na presidenta de um país. Qual a fé do extremista mesmo?

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