(Foi meu recorde.
Falta muito pra chegar em Mundo Moderno, que o Chico Anysio declamou
maravilhosamente)
Dois dias após os atentados na França, as redes sociais
viraram um campo de batalha entre duas tragédias. Paris ou Mariana? Houve quem
colocasse a Nigéria de duas mil mortes em janeiro, o Quênia de atentado pouco falado
na mídia brasileira e a Síria de todo dia no meio. Mortes a rodo, tragédias
humanas que, se não têm o mesmo fim, tem o mesmo começo. Mas sejamos patriotas!
Nossa tragédia vale mais. Mariana foi muito pior, seu colonizado!
Claro, claro! Hoje em dia, estamos tão corridos por tanta
coisa que tão pouco vale que se é pra chorar por uma tragédia, que choremos por
uma apenas. É preciso escolher uma pra chorar, uma pra lamentar. Lamentar por
duas já é demais. Todas, então, é impensável. Ou uma ou outra. Tenho mais o que
fazer no meu Facebook a ficar chorando tanta gente. Mas se a moda pede e a rede
social facilita, vamos colocar aí a bandeira da França no avatar e estamos
conversados.
Não sou uma pessoa fria e insensível. Sou francófilo por
educação própria. Disse aqui que admiro os franceses, mas tenho raízes mineiras
de onde vieram meus quatro avós. Acho que é o bastante pra doer meu coração
peludo ver gente inocente morrendo na mão de uns malucos armados quanto uma
cidade, um rio e parte da costa brasileira, no Espírito Santo, contaminada.
Tem isso também. Já fui pro Espírito Santo, de belas praias.
Imaginá-las destruídas me dói mais ainda. E tem seres humanos como eu sendo
mortos por vários e estúpidos motivos do outro lado do mundo. Meu coração pétreo
está em pó. Os de muitos não está, pois
não sabem onde fica a França, onde fica Mariana e, imagina!, onde ficam os
outros tantos países. Mas já que deu na TV, vamos lamentar.
Enquanto isso, pessoas que, em tese, pregam a palavra de
deus cristão atribuem culpa a um contingente de dois bilhões de almas pela
loucura de uns vinte em Paris e uns – sejamos otimistas – dois mil mundo afora.
Afinal, muçulmano é terrorista, todos. Seus seguidores, ovelhas tangidas, balem
o discurso. E aí ele aproveita a onda coloca a culpa na presidenta de um país.
Qual a fé do extremista mesmo?
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