terça-feira, 3 de novembro de 2015

A nova loira do Calypso é linda (e chega lacrando!)

(Esse é um post militante e defensor de minorias além de conter alta carga de futilidade com um toque de Nelson Rubens e Sonia Abraão. Se qualquer uma dessas características desagrada o casto e conservador leitor, recomendo que encerre sua leitura nessa frase. Se você continuou a ler essa outra e arrisca se aventurar a ler o resto não me responsabilize nem venha com mimimi. Obrigado.)

Essa semana foi anunciada a cantora que substituirá a vocalista Joelma na Banda Calypso a acompanhar o guitarrista Chimbinha. A sucessora se chama Tábatha Mendes, tem 28 anos, é potiguar e já tinha uma carreira anterior antes dessa nova fase num dos grupos mais adorados pela massa e que é referência de música regional, mas quem nos últimos meses tem mais aparecido por conta de brigas conjugais que ultrapassaram as paredes do lar e desembocaram nos palcos proporcionando cenas tristes e dignas de se pedir o dinheiro de volta. Espera-se que, com a separação definitiva, casa e palco, cada um dos ex-cônjuges siga sua vida pessoal e carreira. Chimbinha fez a parte dele.
De pronto a moça foi comparada a uma travesti (nada errado aqui. É um substantivo feminino mesmo. A gramática é fluida e é menos importante quando envolve respeito a uma classe). Certamente por fãs da antecessora, mulher assumidamente evangélica (que, inclusive, disse que seguiria carreira gospel. Que tenha sucesso), e que declarou ser contra casamentos homossexuais citando a Bíblia. O que pareceu ser uma ofensa foi mote para uma resposta arrasa-quarteirão: “Não vejo problema algum em parecer uma travesti. São seres humanos como eu e fico extremamente honrada se, de alguma forma, eu puder representa-las. Respeitar as pessoas é fundamental”. Como diriam as travestis, nessa história Tábatha “lacrou”.
Música é um negócio, para alguns, que mexe como mexe o futebol e carrega uma passionalidade excessiva. Goste-se ou não, a Banda Calypso tem um público fiel que, durante esse ínterim de confusão e lavação de roupa suja, acabou tomando partido de um ou de outra. Muita gente viu Chimbinha como um canalha que traiu a esposa maculando o sacramento do matrimônio. Também teve quem visse Joelma como uma mulher descompensada que levou para os palcos misturando campos pessoal e profissional. Nenhum dos dois times está errado, mas que Joelma não soube lidar de forma madura e profissional com o assunto, isso é claro.
Nesse caldo todo há o elemento musical. Joelma, goste-se ou não, era a “cara” da Banda Calypso. Há mais de vinte anos cantando e saracoteando, ela era a “mulher do Calypso”. E isso impregna seja qual for o estilo. Não se imagina o U2 sem o Bono ou as Supremes sem a Diana Ross. Vai demorar para que Thábata “pegue” e corre o risco de não acontecer, mas o show precisa continuar e a menina precisará mostrar serviço. E, por isso, é claro, que fãs mais xiitas da Banda Caypso vão ser cruéis com a nova loira. Muitos, inclusive, retomando o nome de travesti que deram a ela.
E aqui cabe uma reflexão sobre o tema: a insistente associação das travestis ao pejorativo. É comum entre homens, ao encontrar uma mulher que, seja muito feia seja fora dos padrões estabelecidos (ah, os padrões) ou seja o que for, mas não agrade, chama-la de “travesti” ou “traveco”. Recentemente a apresentadora Xuxa, num programa do Rodrigo Faro disse que ele estava “feio como um travesti” o que rendeu críticas a ela, de grupos de defesa dos direitos GLBT a pessoas comuns indignadas com a agressão passando pelas próprias travestis. Não pegou bem.
Conheço poucas travestis. Travestis famosas também são raras. A mais emblemática é a Roberta Close, que mais tarde fez a cirurgia de redesignação sexual (porque ninguém “muda de sexo”, apenas se adapta, mas isso é outra história). Recentemente a atriz Laverne Cox, que participa da série Orange is New Black e ganhou holofotes pela interpretação, também é transexual. A semelhança entre elas: Ambas são muito bonitas. Roberta, inclusive, com “detalhe” e tudo, foi um símbolo sexual nos anos 80 e uma das edições mais vendidas da revista Playboy.
A verdade é que beleza é um dos conceitos mais subjetivos que uma pessoa pode construir. Nem sempre o belo universal é o belo pessoal como muitas vezes, o feio para muitos é uma beleza sem igual para alguém. E aí, enfrenta-se o problema. Como mostrar essa beleza para a Sociedade (ah, a Sociedade) e escapar ileso da crucificação? Imagino que a solução para isso é, simplesmente, ignorar a sentença de morte e viver a própria vida. Há casos felizes de namoros e casamentos – sim, casamentos! – entre mulheres e homens – sim, homens! – transexuais e pessoas do sexo oposto. Eles estão aí. Existem e contemplam pessoas felizes. E não tem desaprovação moral, repúdio religioso, implicância pura e simples que destrua isso. Para essas pessoas pouco importa a opinião da Xuxa associando travesti a feiura e nem Joelma falando  que isso é errado. Para essas pessoas, a comparação de Thábata Mendes a uma travesti é algo meritório, pois se uma travesti foi comparada a ela, pode se orgulhar. Como a nova loira do Calypso, ela é muito, mas muito bonita. 

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