(Esse é um post
militante e defensor de minorias além de conter alta carga de futilidade com um
toque de Nelson Rubens e Sonia Abraão. Se qualquer uma dessas características
desagrada o casto e conservador leitor, recomendo que encerre sua leitura nessa
frase. Se você continuou a ler essa outra e arrisca se aventurar a ler o resto
não me responsabilize nem venha com mimimi. Obrigado.)
Essa semana foi anunciada a cantora que substituirá a
vocalista Joelma na Banda Calypso a acompanhar o guitarrista Chimbinha. A sucessora
se chama Tábatha Mendes, tem 28 anos, é potiguar e já tinha uma carreira
anterior antes dessa nova fase num dos grupos mais adorados pela massa e que é
referência de música regional, mas quem nos últimos meses tem mais aparecido
por conta de brigas conjugais que ultrapassaram as paredes do lar e desembocaram
nos palcos proporcionando cenas tristes e dignas de se pedir o dinheiro de
volta. Espera-se que, com a separação definitiva, casa e palco, cada um dos
ex-cônjuges siga sua vida pessoal e carreira. Chimbinha fez a parte dele.
De pronto a moça foi comparada a uma travesti (nada errado
aqui. É um substantivo feminino mesmo. A gramática é fluida e é menos
importante quando envolve respeito a uma classe). Certamente por fãs da
antecessora, mulher assumidamente evangélica (que, inclusive, disse que
seguiria carreira gospel. Que tenha sucesso), e que declarou ser contra
casamentos homossexuais citando a Bíblia. O que pareceu ser uma ofensa foi mote
para uma resposta arrasa-quarteirão: “Não vejo problema algum em parecer uma
travesti. São seres humanos como eu e fico extremamente honrada se, de alguma
forma, eu puder representa-las. Respeitar as pessoas é fundamental”. Como
diriam as travestis, nessa história Tábatha “lacrou”.
Música é um negócio, para alguns, que mexe como mexe o
futebol e carrega uma passionalidade excessiva. Goste-se ou não, a Banda
Calypso tem um público fiel que, durante esse ínterim de confusão e lavação de
roupa suja, acabou tomando partido de um ou de outra. Muita gente viu Chimbinha
como um canalha que traiu a esposa maculando o sacramento do matrimônio. Também
teve quem visse Joelma como uma mulher descompensada que levou para os palcos
misturando campos pessoal e profissional. Nenhum dos dois times está errado,
mas que Joelma não soube lidar de forma madura e profissional com o assunto,
isso é claro.
Nesse caldo todo há o elemento musical. Joelma, goste-se ou
não, era a “cara” da Banda Calypso. Há mais de vinte anos cantando e
saracoteando, ela era a “mulher do Calypso”. E isso impregna seja qual for o
estilo. Não se imagina o U2 sem o Bono ou as Supremes sem a Diana Ross. Vai
demorar para que Thábata “pegue” e corre o risco de não acontecer, mas o show
precisa continuar e a menina precisará mostrar serviço. E, por isso, é claro,
que fãs mais xiitas da Banda Caypso vão ser cruéis com a nova loira. Muitos,
inclusive, retomando o nome de travesti que deram a ela.
E aqui cabe uma reflexão sobre o tema: a insistente
associação das travestis ao pejorativo. É comum entre homens, ao encontrar uma
mulher que, seja muito feia seja fora dos padrões estabelecidos (ah, os
padrões) ou seja o que for, mas não agrade, chama-la de “travesti” ou “traveco”.
Recentemente a apresentadora Xuxa, num programa do Rodrigo Faro disse que ele
estava “feio como um travesti” o que rendeu críticas a ela, de grupos de defesa
dos direitos GLBT a pessoas comuns indignadas com a agressão passando pelas
próprias travestis. Não pegou bem.
Conheço poucas travestis. Travestis famosas também são raras.
A mais emblemática é a Roberta Close, que mais tarde fez a cirurgia de
redesignação sexual (porque ninguém “muda de sexo”, apenas se adapta, mas isso
é outra história). Recentemente a atriz Laverne Cox, que participa da série
Orange is New Black e ganhou holofotes pela interpretação, também é transexual.
A semelhança entre elas: Ambas são muito bonitas. Roberta, inclusive, com “detalhe”
e tudo, foi um símbolo sexual nos anos 80 e uma das edições mais vendidas da
revista Playboy.
A verdade é que beleza é um dos conceitos mais subjetivos
que uma pessoa pode construir. Nem sempre o belo universal é o belo pessoal
como muitas vezes, o feio para muitos é uma beleza sem igual para alguém. E aí,
enfrenta-se o problema. Como mostrar essa beleza para a Sociedade (ah, a Sociedade)
e escapar ileso da crucificação? Imagino que a solução para isso é,
simplesmente, ignorar a sentença de morte e viver a própria vida. Há casos
felizes de namoros e casamentos – sim, casamentos! – entre mulheres e homens –
sim, homens! – transexuais e pessoas do sexo oposto. Eles estão aí. Existem e
contemplam pessoas felizes. E não tem desaprovação moral, repúdio religioso,
implicância pura e simples que destrua isso. Para essas pessoas pouco importa a
opinião da Xuxa associando travesti a feiura e nem Joelma falando que isso é errado. Para essas pessoas, a
comparação de Thábata Mendes a uma travesti é algo meritório, pois se uma
travesti foi comparada a ela, pode se orgulhar. Como a nova loira do Calypso, ela
é muito, mas muito bonita.
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